Em Meio a Noite Escura

Foi em meio a noite escura, dessas que nem a lua tem coragem de aparecer, que ela sorriu em minha direção. Olhei para os lados e em torno de mim, procurando a criatura que fora presenteada com tão belo riso e, com ceticismo, vi que estava sozinho.
Seus olhos me fitavam com a graça de sua natureza e brilhavam tanto, que temi que os mais obscuros de meus pensamentos fossem assim, tão inusitadamente, revelados.
Vindo em minha direção, parecia disposta a embrenhar-se pelos meus poros, correr junto de meu sangue e transformar a pedra em meu peito em migalhas, como o fez.
O tupor impediu-me de qualquer reação - e quem me derá ter tido forças para fugir - cara-a-cara com ela, senti a saliva fugindo de minha boca e as palavras emudecendo em consternação.
Os meus olhos, impedidos de piscar, viam de perto os detalhes de suas formas, aplaudiam o balé de seus cabelos ao vento e suplicavam a boca, que sem saber, sempre desejei.
Mas ela estancou a alguns centimetros. Respirou tão profundamente que pareceu-me roubar o que estava em meus pulmões, fechou os olhos por um instante e, como quem houvesse ponderado muito a respeito de alguma coisa, quebrou o silêncio da noite dizendo-me apenas 'adeus'.

11 de setembro de 2008

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