Foi Assim Que Me Matei...

Uma nuvem de conforto paira sobre mim enquanto me olho no espelho. Meu olhar chega a brilhar, refletindo a luz da lâmpada acessa. Minha pele um pouco pálida se apresenta em um corpo esguio diante do espelho.

Em cima da pia, um barbeador cego divide espaço com um sabonete pela metade. Alguns comprimidos coloridos, contrastando com a louça branca. Uma navalha na prateleira me atentando a ceder a algumas idéias confusas.

Um movimento rápido da lamina, um pouco de sangue se misturando com a água que escorria em um fio fino da torneira. Quase nenhuma dor, nenhum arrependimento, nenhuma culpa.

Com alguma dificuldade, um golpe no outro pulso, outro golpe indolor. Os olhos ainda brilhando no espelho, ofuscados por lágrimas aliviadas. O mesma lâmpada acessa, iluminando o chuveiro aberto.

Algumas gotas quentes escorrendo pelo corpo arrepiado. Um pouco de sangue, rodopiando em volta do ralo. A parede gelada em minhas costas. Um pouco de vertigem. As paredes girando, o chão sem parar no mesmo lugar.

Os braços adormecidos em volta das pernas. A cabeça baixa olhando para o ralo com seus vestígios de sangue. A parede servindo de apoio para o meu corpo trêmulo. A visão turva. Alguns calafrios.

A lâmpada acessa presa ao teto, uma luz entre minha lucidez e delírio. Os olhos sempre abertos, ansiosos para ver logo o fim. Por fim, sem nenhuma palavra, nem bilhete de adeus, com os pulsos cortados morri ali, sentado no chão do banheiro.

6 de março de 2009

0 Comments: