Quinze Minutos

Foi entre um trago e outro que vislumbrei fragmentos de um futuro que insistiu em não existir. Enquanto jogava a fumaça para o alto deixando escapar um destes seus sorrisos é que imaginava seu sorriso ao acordar com o café na cama ou acordar com você em minha cozinha, fazendo café só de calcinha em uma de minhas camisetas desbotadas.

Tinha a visão desta cena nítida, você teria o mesmo sorriso e o mesmo rubor na pele, do dia em que li à crônica que você tanto gostava em voz alta na escada rolante cheia de gente. Teria os mesmos pudores que teve a cada frase de teor impróprio, que fiz questão de ler num tom ainda mais alto para provocá-la.

Foi entre estes pensamentos que imaginei você conhecendo minha mãe e ela ficando chocada pela mulher, que o filho decidira se apaixonar, ser ou parecer ser ainda mais louca que o próprio filho.

Nesta percepção que comecei a avaliar tua sanidade. Percebi que loucos são os outros que não imaginam uma vida perfeita e uma paixão avassaladora por alguém que agente não tem certeza do que é, e gosta exatamente por ela estar em continua metamorfose ora para agradar ora para não perder sua individualidade.

Foi com estes pensamentos que quis cuidar de você, ter-la entre meus braços e oferecer-lhe meu ombro para tuas angustias e meu peito para teus temores.

Entre um minuto e outro, sabia cada vez menos de você e pensava cada vez mais em um nós. Eu insistindo para você se alimentar e você me mandando pentear o cabelo, eu preferindo banho frio e você amante da água quente, minhas noites insones observando-a dormir como uma pedra, eu beijando-lhe a boca quando entrássemos em desacordo e você gritando como uma louca por ser contrariada....

Entre tais contrastes, imaginei a marca de biquíni em tua pele branca, e teu nome marcado para sempre na minha. Senti o arrepio de tua voz dizendo-me loucuras que seria capaz de fazer por mim e toda a alegria de cada loucura que cometeria apenas para ver o seu sorriso enquanto me recompensasse com o teu abraço.

Ouvi tua voz em minhas madrugadas, teu gemido de prazer misturado ao cheiro do teu corpo e o suor de nossas peles. Desvendei cada segredo de teu sexo e a vi gritando em teu orgasmo que eu fora o melhor de todos os teus, e suas amantes.

Vi-me acordando atrasado e encontrando um de meus rascunhos utilizados por você para me desejar um bom dia, e teria a certeza de que você, antes de usar minhas folhas, havia escolhido um dos versos em que estivesse trabalhando, só para ter certeza de que não deixaria teus vestígios de lado.

Senti a embriaguez das garrafas de vinho que tomaríamos falando de muitas palavras que nada queriam dizer e que diziam muito a respeito dos castelos e abismos que passamos ou temíamos. Sabia que quando estivesse cansada de minhas filosofias de boteco me elogiaria de seu modo, dizendo que sou bizarro e eu riria e faria cena de drama como quem se ofende, apesar de te compreender.

Beijaríamos em todos os lugares, que fosse só para provocar! Andaríamos de braços dados mesmo que brigados, só para deixar os outros morrendo de inveja de algo tão perfeito e seriamos perfeitos um para o outro. Iguais que se enxergam no espelho e muda no outro exatamente aquilo que precisam ser modificado em si mesmo.

Mas você deu um ultimo trago em seu cigarro, disse-me adeus no lugar de um até logo, sumiu entre a multidão que povoa este centro e que não tem a mínima idéia de quanto vale quinze minutos.

(Texto de 2007)

30 de março de 2009

Roleta Russa!

O metal frio entre os dedos da mão tremula

O cano encostado na testa suada de nervoso

O barulho do gatilho sendo apertado com força

O silencio que antecede o disparo da arma

O alivio adiado até a próxima rodada

Melhor Só

Parei de fazer juras de amor eterno.

             O amor as vezes acaba...

Desisti de realizar alguns sonhos.

             Eu sempre me frustro...

Já não quero me apegar a ninguém.

             Eu sempre me enjôo...

Foi Assim Que Me Matei...

Uma nuvem de conforto paira sobre mim enquanto me olho no espelho. Meu olhar chega a brilhar, refletindo a luz da lâmpada acessa. Minha pele um pouco pálida se apresenta em um corpo esguio diante do espelho.

Em cima da pia, um barbeador cego divide espaço com um sabonete pela metade. Alguns comprimidos coloridos, contrastando com a louça branca. Uma navalha na prateleira me atentando a ceder a algumas idéias confusas.

Um movimento rápido da lamina, um pouco de sangue se misturando com a água que escorria em um fio fino da torneira. Quase nenhuma dor, nenhum arrependimento, nenhuma culpa.

Com alguma dificuldade, um golpe no outro pulso, outro golpe indolor. Os olhos ainda brilhando no espelho, ofuscados por lágrimas aliviadas. O mesma lâmpada acessa, iluminando o chuveiro aberto.

Algumas gotas quentes escorrendo pelo corpo arrepiado. Um pouco de sangue, rodopiando em volta do ralo. A parede gelada em minhas costas. Um pouco de vertigem. As paredes girando, o chão sem parar no mesmo lugar.

Os braços adormecidos em volta das pernas. A cabeça baixa olhando para o ralo com seus vestígios de sangue. A parede servindo de apoio para o meu corpo trêmulo. A visão turva. Alguns calafrios.

A lâmpada acessa presa ao teto, uma luz entre minha lucidez e delírio. Os olhos sempre abertos, ansiosos para ver logo o fim. Por fim, sem nenhuma palavra, nem bilhete de adeus, com os pulsos cortados morri ali, sentado no chão do banheiro.

6 de março de 2009

Quem vai perceber que eu parti?

Quem vai lembrar de mim, daqui a alguns anos?

Quem vai saber quem eu fui, ou conhecer meus versos?

Quem vai sentir saudade dos meus textos confusos?

Quem vai ter algumas noites insones pensando em mim?

Quem vai chorar algumas lágrimas sobre cartas amarelas?

Quem vai brindar algum dos poucos feitos que eu fiz?

Quem vai carregar o meu sobrenome com um pouco de orgulho?

4 de março de 2009

Oco!

Talvez fosse melhor os olhos marejados de antes, os sorrisos tristes distribuídos a quem me viu a algum tempo, talvez eu até preferisse as noites insones entre cartas que nunca mandei, ou até a vontade de gritar presa em um nó na garganta.

Talvez fossem melhor todos os arrependimentos tardios, lembranças de um passado que insistiu em não existir, quem sabe sentir saudade de alguém que não vem.

Talvez seja melhor até algum sofrimento no peito. Quem sabe assim eu não me sentisse tão vazio.